HOJE

 

Podia ter perdoado todos os erros da mesma forma, podia ter ido além das forças. No prazer da jornada podia encontrar paz e calma, mas esta jornada não é minha, não é a minha luta, não são os meus dias.

Não percorro caminhos ao teu lado, pois ao teu lado nada cabe, apenas saudade e imagens destroçadas da pessoa outrora imaginada.

Não procuro desculpas, não procuro respostas, procuro uma e apenas uma razão para na solidão da noite juntar todas as folhas de papel numa mala sem fundo e partir para um novo horizonte, um novo despertar.

Já não é vida nem mesmo a vontade que me mantém junto a esta imagem é apenas o cansaço da rotina e a liberdade de me saber minha que me mantém ainda nesta margem. Não te guardo no coração nem mesmo na razão, guardo te em molduras.

Não sorriu contigo, sorrio para ti numa ultima esperança. Não te peço nada e no pouco que te digo são sempre fantasmas que ficam, tornando a minha figura o mais distante daquilo que um dia disseste amar.

Coração é gelo e de consciência nem vestígios, na alma já nada carrego, sou apenas eu este corpo sem alma a percorrer os caminhos que desenho nas noites acordada a espera que amanheça para estar mais velha e mais perto desse fado impiedoso que me leva e me mata por momentos nos braços da saudade enquanto bebemos café e dizemos tudo menos a verdade.

Um fim

Na frieza do fim pensei me morta

Afinal havia mais força em meus braços que em tuas palavras

Doí me o corpo e talvez um pouco a alma

Mas assim o quis o tempo

Não guardo rancor pelo que és

Guardo a saudade dos momentos que passaram

Assim vou seguir em frente sem magoas

Sinto me tão cheia que já não tenho como chorar

As lágrimas que ficam do Adeus, deixo as para o teu acordar

Quando nas noites frias de inverno procurares meu corpo vais encontrar a dor da minha ausência

Nos locais onde trocamos juras de amor, vais sentir o meu cheiro mas eu não estou

Nas madrugadas de conversa perdida vais ter pesadelos

Não sou um fantasma

Sou a tua melhor miragem a areia que te fugiu entre os dedos

Sou quem podia ser tudo, mas que não deixou nada

Não guardo rancor das palavras

Guardo a vontade de te ter

Não tenho espaço nesse mundo distorcido

Não tenho palavras para te consolar

Sou quem podia ter dado tudo e por tudo ter dado nada dei

Se o telefone tocar e não ouvires a minha voz

Apenas não há mais palavras

Não guardo rancor pelos dias de solidão

Guardo me a mim para viver outra história

Desisto

Ainda me restam as palavras consumidas em magoas
Ficam me ainda as lágrimas descontroladas
Escrevo para não gritar
Sujo as folhas para não partir vidros
As forças que restam são para controle
Resta nada de nada
Cansada, desisto
Desisto do que não vale a pena
Desisto do que não leva a bom porto
Desisto de chorar, discutir, desisto de tentar
Calo-me como a noite leva a melhor do dia
Acalmo o exterior para não arder
A unica palavra: desisto
Estou cansada. Não de hoje, de ontem ou da semana
É um cansaço de outra vida
Uma lembrança de quem sou OU pensava ser
Fantasma de mim própria no espelho
Marioneta de vontades, de servir
Desisto de mim
Desisto da especie de vida
Sequei as lágrimas
Esvaziei a alma
Vou apenas deixar sair este fogo e ver me arder até só sobrar cinzas no vento
Vou apenas ali à esquina
Ver a miragem que fui
Vou só ali vomitar de nojo
Vou só ali e não volto

Datas e locais

Datas de palavras escritas em histórias antigas
Já não há histórias novas
Apenas cafés de conhecidos
Medindo as palavras com medo do conflito de ideias
Não te quero mal, apenas não te quero perto
A indiferença da tua presença seca me as palavras, tira me a alma do corpo
São palavras repetidas
São lembranças que se arrastam para fora de casa
As paredes tem tantas histórias
As fotografias deixam me presa
Os papeis levam me a sanidade
Chegou a hora de deixar tudo para trás
Deixar as palavras em momentos
Deixar cada um seguir seu caminho
Encontrar seu próprio abismo
Para mim já não dói de tão dorida que fiquei
A compreensão é um pedido sem sentido
Sem sentido sou eu perdida nas palavras
Quando escrevo faço por vontade
Hoje faço-o para ocupar a mão
Desviando o olhar desta rotina só minha
As piadas que só eu guardo em segredo
O perfume já não se sente
São apenas cigarros que partilhamos
Parece que a cada maço que avança ficamos mais estranhos sem falar à espera da hora de partir para os de mais!