Mudanças

Odeio palavras sobrepostas
Ideias forçadas em manhãs mal acordadas
Conversas sem conteúdo
Já tudo foi dito
Tudo teve um fim
Momentos de mudança
Os ventos mudam o rumo
Palavras não doem tanto
Os sorrisos não forçados
Olhares genuinos
A maré baixa
Uma calma nas horas sem fim
Beijos na saudade
Corpos abandonados
Sobe a alma ao céu
As estrelas testemunham
Flores pelo mar…

“Pequena lembrança”

Todos temos um chinelo arrumado
Aquele chinelo demasiado querido para deitar fora
Tão velho, usado, conhecido para usar mais uma vez

Há dores que o tempo não apaga
o ciúme não esquece
a verdade recalca
eu espero à média luz!

Mas voltando aos chinelos:
Perduram na lembrança as palavras de um passado
Tal como eles ficaram na minha vida
Ficam todos os pedaços dessa vida revivida

Do tanto que ficou perdido
Ainda encontro noites como a primeira
Encantada com as palavras
Enrolada pelo fumo de um cigarro
Quase morro nas palavras que não dizes

Bem o sei, o passado e o sofrimento iludido em futuro
Bem sei os passos que das em direcção à lua
E todos os outros que nas minhas costas fazes no deserto
Sei o tão bem todo esse apetite balançado no desejo

Não somos um pé descalço, somos dois chinelos sem par!

Chovendo

Esta chuva lava a alma
Incendeia os corpos
Aumenta o desejo das especies
São noites rendidas em dias
Tudo não passa de aventura carnal
A sedução vence a razão
São roupas espalhadas
Sonhos desfeitos em suor
Soltam se os preconceitos
Qual animais selvagens
Desprovidos de anseios
Apenas resta o desejo
O sol vai raiar de novo, quando acontecer
São cinzas de uma fogueira
Sem lenha por onde arder…

Sentir em magoas…

Flores calcadas
São calçada de gente morta
Poesia oculta
Noites plenas
Usados sentidos
Entregue às sombras
Mentem espelhos
Palavras pela manhã
O cheiro de mar
Fica-me no corpo
Banhos seguidos
Cheiro que se propaga
Cama, lençóis
Minha vida
traduzida em sentidos
Seria o toque da chuva
O cheiro da miséria
Paladar de perda
Ouvir recriminações
Ver o meu corpo perder a alma
Tenho o peito em chamas
Os olhos em lágrimas
Apetece me gritar
E em magoas magoar…

Pensar com pensamentos teus…

José Saramago:

“Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.”

“De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos”

“Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.”

“O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca,
e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.”

Noites

Culpa…

Separadas contas a deste rosário que carrego ao peito sem saber, de um lado as magoas do mundo do outro as magoas que causei… pesa por igual mata me por pedaços…. Velas em funerais alheios são flores na minha campa, se por saber quem mato não me sinto culpada. Há caminhos sem retorno, tudo nasce e há-de morrer um dia, o que tem um começo está ameaçado com um fim… Lágrimas são demasiado cliché para comparar com o sofrimento obtido em pesadelos sem retorno.
Fim da linha

Fora o clichés de ser culpada do mal maior, neste momento sou culpada da minha magoa dos meus medos do meu desespero, sem dormir sem sentir o frio que me faz tremer ou o calor da raiva com que leio palavras que não me ferem, já nada me pode fazer mal, o mal já esta feito.
Há caminhos sem retorno, tudo nasce e vai morrer um dia tudo o que tem um começo está ameaçado com um fim… tenho raiva para demonstrar tenho lágrimas para chorar sem saber muito bem. Pávida e serena nesta sala comovida pelo silencio fico a escrever a espera que o meu coração volte a bater a espera que o meu respirar se torne normal e que tudo não tenha passado de um pesadelo do qual não tarda vou acordar.

Ela por ela

Apetece me escrever nas estrelas
Dançar com a chuva
Ver te imóvel, olhando
O som do meu corpo
Melodia das minhas palavras

Desejo, inimigo das palavras
Amizade, inimiga do prazer
São tantas as vezes que as palavras faltam
Quantas vezes não me ouves
Não me convenço de mentiras
São as verdades de horas

Salto à chuva, posso chorar sem ser vista
Rio nos dias de sol, não se ve a magoa no fundo do olhar
Pertenço a um mundo só meu
A dele para ele sonho viver mais um dia
Sonho acordada, choro com facilidade
Magoou me tão pouco e ainda o sinto
Tem tudo o que procuras
Não consegues encontrar o que não gostes
Ainda ouço essas palavras
No calor das noites que durmo acordada!!

Calada

Das pedras manchadas de sangue
À areia lavada pela água
Sobram me as flores brilhando ao sol
Queimo folhas brancas
As canetas de arco-iris
Escrevem a breve despedida

Vivo no pecado do pensar
Poemas reais são bilhetes de suicídio
Sonho com milagres
Na ironia dos pensamentos
Simplesmente eu

Vez4es

Escrevo mil palavras
Tantas horas acordada
Perco pedaços
Pela vida que moldei
Solidão é verdade
Amor uma piada
Tenho tantos afectos
E minto nos sorrisos

Para ti a quem protejo e por vezes esqueço
Tenho paciência e palavras doces
Para ti a quem faço perder
Tenho horas e pouca paciência
Para ti a quem adoro
Tenho tanto, perco horas e pedaços no teu quarto
Para ti que me levas te a passear no luar
Tenho muito pouco e cada vez menos
Para ti que me amas-te
Tenho dias de paciência, um abraço a todas as horas

Mas para quem um dia me abandonou
Tenho tantos beijos que não sei contar
Todas as lágrimas que por ti chorei
Agora são sorrisos sinceros
Todos os tombos
São conversas felizes no café da esquina

Tenho histórias que conto no calor da noite
Tenho história cravadas no coração
Como um vidro
Não mata mas magoa,
Magoa e não deixa amar de novo

Procuro palavras em noites geladas
Encontro uma cama fria que me mantém acordada
Não quero viver na mágoa
Viver faz me ter vontade de morrer

Velha e rodeada de fantasmas!!